O FATO
A maior parte da produção de papel ocorre em locais com baixo estresse hídrico e, embora grandes volumes de água sejam utilizados, a maior parte retorna ao ambiente após um rigoroso tratamento que garante os padrões legais de qualidade. Portanto, o impacto real da indústria de papel e celulose nos recursos hídricos é muito menor do que se supõe.
A água é essencial para a sociedade e a indústria do papel.
A água é essencial para a vida, mas há previsões de que, em 2025, metade da população mundial viverá em áreas com escassez de água. Estresse hídrico ocorre quando a demanda por água excede a disponibilidade durante um certo período ou quando a má qualidade restringe seu uso. Ocorre em áreas com baixa pluviosidade e alta densidade populacional e em áreas onde atividades agrícolas ou industriais demandam muita água. Felizmente, no Brasil, a quantidade de água disponível ainda é muito maior que a demanda.
Em média, 52% da captação total de água no Brasil é usada para agricultura (principalmente irrigação), 15% para indústria e geração de energia e 33% para abastecimento da população.
Celulose é a matéria-prima do papel, cartão, papelão e outros produtos. No Brasil, toda a celulose é produzida unicamente de árvores cultivadas exclusivamente para essa finalidade. A indústria de celulose e papel depende da água em três etapas cruciais. A água da chuva é essencial para as árvores cultivadas crescerem e, pela fotossíntese, transformarem dióxido de carbono (CO₂) em oxigênio e celulose (esse processo contribui para a mitigação do aquecimento global). Água também é necessária para a extração da celulose dessas árvores, assim como no processo de fabricação do papel.
As espécies cultivadas no Brasil para celulose são o eucalipto e o pinus americano. Há uma crença de que o cultivo de eucaliptos seca o solo, mas isso não é verdade. Esse efeito só acontece quando o plantio é feito sem critérios. No manejo realizado pelas indústrias de celulose, frequentemente os eucaliptos cultivados ajudam a preservar e recuperar recursos hídricos nas áreas de plantio.
As florestas precisam de água, mas também são essenciais para fornecê-la.
A água da chuva é essencial para o crescimento de florestas e plantações de árvores. O quanto as florestas são essenciais para nos fornecer água é menos conhecido. 75% da água doce acessível do mundo vem das florestas. Elas são vitais para o nosso abastecimento, fornecendo recursos hídricos de alta qualidade. As florestas nativas principalmente, mas também os plantios de árvores realizados segundo as boas práticas ambientais, ajudam a regular a disponibilidade de água, reduzindo secas e inundações. Contribuem ainda para a formação de nuvens e chuvas, reduzem a erosão e recarregam as reservas subterrâneas.
“As florestas diminuem a dispersão da água da chuva permitindo a sua infitração no solo e favorecendo o seu armazenamento subterrâneo. Isso é crucial para garantir o fornecimento de água limpa.” ONU FAO, 2015.
A fabricação de papel depende da água, ainda que seja consumida relativamente pouca quantidade.
A água é essencial para a fabricação de papel e celulose porque permite refinar, misturar, transportar as fibras de celulose e, finalmente, agregá-las para formar a folha. Também é necessária para geração de energia e para o resfriamento de partes do sistema.
Como a água é um recurso crucial para a indústria, a maioria das fábricas de celulose e papel estão localizadas perto de suprimentos abundantes.
No Brasil, a maioria das fábricas utiliza águas superficiais, como de rios e lagos. Entre os setores industriais de transformação, o de celulose e papel responde por 13,4% da captação nacional e 4% do consumo. Dentro das fábricas, investe-se em modernização tecnológica, sistemas de reuso e melhores práticas de gestão para captar a menor quantidade possível e, após o uso, devolvê-la à origem com os padrões de qualidade exigidos pela legislação. Muitas vezes isso significa que a água devolvida é mais limpa do que a que foi captada, no que se refere a resíduos orgânicos. Em consequência, o uso de água caiu drasticamente nos últimos 50 anos, passando da média de 200m³/t de celulose, nos anos 1960, para 20 a 40 m³/t atualmente.
Do volume de água captado, 80% retornam à sua fonte original depois de ser reutilizado e tratado adequadamente. 19,7% retornam à atmosfera por evaporação. Apenas 0,3% da água captada fica no produto.
A água que sai da fábrica atende aos requisitos legais e o seu tratamento tem melhorado progressivamente.
A água circula nas fábricas de celulose e papel várias vezes antes de ser devolvida ao meio ambiente. Antes disso, ela precisa ser tratada e para isso são utilizados vários processos como filtração, sedimentação, flotação e tratamento biológico.
Melhorias nas técnicas de fabricação de papel e tratamento de água refletiram sensivelmente na limpeza do efluente que sai da fábrica. Desde 1991, houve redução de 94,8% dos níveis de AOX (uma medida da toxicidade causada por compostos de cloro) e uma redução de 76,2% no DQO (Demanda Química de Oxigênio, que avalia a quantidade de oxigênio dissolvido consumido em meio ácido que leva à degradação de matéria orgânica).
A pegada hídrica do papel é muito menor do que se acredita.
Alega-se, frequentemente, que são utilizados volumes excessivos de água para produzir papel. Essas afirmações certamente não levam em conta o ciclo virtuoso da água nos plantios de árvores, principalmente em comparação com usos anteriores do mesmo solo. Também não consideram que as fábricas estão situadas onde há água abundante e grande parte é devolvida aos rios com boa qualidade.
Uma extensa avaliação da pegada hídrica de uma fábrica de papel, considerando toda a cadeia de suprimentos, leva à conclusão de que uma folha A4 pode usar entre 2 e 13 litros de água para ser produzida. Mas 60% disso é água para florestas e outras matérias-primas naturais, 39% é água de efluentes e apenas 1% é captada diretamente para a produção.
Fonte: Two Sides