Impressão e papel são formas altamente sustentáveis de comunicação na sociedade digital atual. Apesar disso, ainda existem equívocos de que é um desperdício, prejudicial ao meio ambiente e responsável pelo desmatamento. Mais preocupante é a incompreensão de que a comunicação digital é mais amiga do ambiente, o que nem sempre é o caso.
Para lidar com esses equívocos e para melhor informar e educar os consumidores, as empresas e o público em geral, Two Sides publicou uma série de Fact Sheets para tratar de questões ambientais e sociais.
O FATO
Os consumidores estão cada vez mais conscientes do impacto que suas escolhas têm sobre o meio ambiente e são influenciados por declarações ambientais feitas por organizações. Greenwashing é definido como “Comportamentos ou atividades que levam as pessoas a acreditar que uma empresa está fazendo mais para proteger o meio ambiente do que realmente está” (Cambridge Dictionary) ou “Desinformação disseminada por uma organização de modo a apresentar uma imagem pública ambientalmente responsável” (Wikipédia).
Muitas organizações líderes, incluindo bancos, empresas de serviços públicos e provedores de telecomunicações, estão incentivando seus clientes a optar por serviços eletrônicos, alegando que contas sem papel, extratos e outras comunicações eletrônicas salvam árvores e são melhores para o meio ambiente. Essas declarações podem ser consideradas como greenwashing, já que não são específicas e nem apoiadas por evidências científicas confiáveis, como a Análise do Ciclo de Vida. São enganosas porque sugerem que a comunicação eletrônica sempre tem menos impacto negativo sobre o meio ambiente do que a comunicação impressa. Normalmente, o que motiva as mensagens de greenwashing contra o uso do papel é, na verdade, a busca por redução de custos.
Exemplos de afirmações enganosas:
- “Não utilize papel, poupe árvores e ajude a salvar o planeta.”
- “Escolha opções digitais e proteja o meio ambiente.”
Essas declarações não são apenas enganosas, mas extremamente prejudiciais para uma indústria que tem enorme importância socioeconômica no mundo e, especialmente, no Brasil. Aqui, as indústrias de base florestal, que incluem fabricantes de celulose, papel, cartão e papelão, e que empregam diretamente mais de 500.000 cidadãos; são responsáveis por um saldo na balança comercial de mais de 11 bilhões de dólares e arrecadam quase 13 bilhões de reais em impostos.
Este Fact Sheet mostra fatos e estatísticas valiosas que as empresas devem considerar antes de encorajar seus clientes a mudar para a comunicação digital por razões ambientais.
48% dos consumidores acreditam que as organizações que promovem o meio digital como melhor opção para o meio ambiente estão, na verdade, buscando a redução de seus custos.
O papel tem uma ótima história sustentável. Feito a partir de árvores cultivadas, ou oriundas de florestas com crescimento sustentável ou, ainda, de fibras recicladas, o papel provém de matéria-prima renovável e é muito reciclado. As matérias-primas dos equipamentos digitais, por outro lado, não são renováveis e há evidências de que a obtenção de algumas delas tem muitos impactos negativos, tanto ambientais como sociais. Além disso, a energia que alimenta os centros de processamento de dados (a “nuvem”) tem uma grande pegada de carbono, enquanto as árvores cultivadas para produção de papel sequestram carbono da atmosfera.
MITOS
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Deixar de consumir papel salva árvores e impede o desmatamento.
São comuns as tentativas de encorajar clientes a trocar as comunicações em papel pelas eletrônicas, com a alegação de que evitar o uso de papel salva árvores. Na verdade, essas afirmações são infundadas. No Brasil, toda a celulose é feita exclusivamente de árvores cultivadas para essa finalidade. Nenhuma árvore nativa é utilizada para isso e nenhuma área de floresta nativa é desmatada para plantio de eucalipto ou de pinus – espécies usadas para a produção de celulose e que não existem nas matas nativas brasileiras. Na Europa, entre 2005 e 2020, as florestas que fornecem 90% da fibra de madeira virgem usada pela indústria de papel aumentaram 58.390 km2 – uma área maior que a Suíça. Isso equivale a um crescimento de 1.500 campos de futebol todos os dias.
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O papel produz muito lixo.
Na verdade, o papel é um dos materiais mais reciclados do planeta. Em 2020, no Brasil, foi reciclado 69% de todo o papel e 83% de todas as embalagens de papel, cartão e papelão. Em 2019, na Europa, foram coletadas e recicladas 57,5 milhões de toneladas de papel, resultando em uma taxa de reciclagem de 72%. A embalagem de papel tem uma taxa de reciclagem ainda maior, de 85%. O papel que não é reciclado desaparece rapidamente e sem impactos significativos, desde que seja encaminhado a um aterro sanitário, uma vez que é biodegradável.
A fabricação de papel é um processo inerentemente sustentável.
Tendo como fonte de matéria-prima árvores cultivadas ou de florestas manejadas para garantir seu crescimento, o processo de fabricação de papel é um ciclo sustentável. A maior parte do papel, cartão e papelão pode e deve ser reciclada, constituindo-se em matéria-prima essencial para a indústria, e não deve ser classificada como lixo. Da fibra utilizada pela indústria europeia de celulose e papel, 45% vêm da fibra de madeira virgem e 55% do papel reciclado. No Brasil, 67% das embalagens de papel e papelão ondulado são produzidas com fibras recicladas.
O ciclo produtivo do papel inclui o uso combinado de fibras virgens e recicladas. Essas últimas não podem ser utilizadas indefinidamente. Após serem processadas diversas vezes, são transformadas em combustível nas próprias fábricas de papel. Trata-se de biocombustível renovável, que não aumenta a quantidade de carbono na atmosfera, substituindo o combustível fóssil.
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A comunicação eletrônica é melhor para o meio ambiente do que a comunicação baseada em papel.
A comunicação eletrônica não é livre de consequências e tem um impacto ambiental que não pode ser ignorado. Atualmente, a indústria de TI é responsável por 3% das emissões globais de gases de efeito estufa e essa taxa deve aumentar para 14% até 2040. Em todo o mundo, as emissões geradas por e-mails são estimadas em 300 milhões de toneladas de CO₂ por ano – o equivalente às emissões anuais de 63 milhões de carros. Em comparação, o setor de celulose, papel e impressão é um dos menores emissores industriais de gases de efeito estufa, respondendo, na Europa, por 0,8% das emissões. A matriz energética das indústrias brasileiras de celulose e papel utiliza 90% de energia oriunda de biomassa. Hoje, grandes empresas brasileiras do setor já se declaram “carbono negativo”, ou seja, retiram da atmosfera mais carbono do que emitem. O problema do lixo eletrônico é colossal, e está crescendo. Em 2019, foram geradas 53,6 milhões de toneladas de resíduos eletrônicos em todo o mundo. Quando os dispositivos eletrônicos são simplesmente jogados fora, materiais como ferro, cobre e ouro são descartados com eles, criando a necessidade de mais mineração.
Em 2019, apenas 43% dos resíduos eletrônicos foram coletados para reciclagem na Europa. No Brasil esse índice não ultrapassa 3%. As atividades de reciclagem não acompanham o crescimento global do lixo eletrônico e o descarte e a falta de tratamento para esses resíduos representam riscos significativos para o meio ambiente e para a saúde humana.
O que é melhor ambientalmente – papel ou digital?
A resposta simples é que ambos têm impactos e não é possível determinar facilmente se um é melhor que o outro. Para uma conclusão definitiva seriam necessários complexos estudos de Análise de Ciclo de Vida (ACV) dos dois processos. Esses são notoriamente difíceis e, onde existem relatórios, os limites da avaliação são muitas vezes seletivos para apoiar o resultado desejado. Para fazer uma comparação precisa é fundamental considerar os ciclos completos, do início ao fim. Para a comunicação digital o destinatário deve abrir a mensagem em um dispositivo, o qual deve ser carregado e também tem seu próprio ciclo de vida a considerar. É importante entender quais ações um e-mail pode desencadear: abertura de anexos, armazenamento, compartilhamento e impressões em casa de conteúdos recebidos eletronicamente por parte de muitos consumidores, com impacto consequente. 59% dos consumidores do Reino Unido dizem que regularmente imprimem documentos em casa. Quando a comunicação em papel é recebida, pode ser armazenada, reciclada, queimada como um biocombustível ou descartada como lixo.
Uma ACV publicada pelo La Poste (serviço postal francês) realizada pela organização independente de pesquisa Quantis, seguindo normas ISO para avaliação do ciclo de vida (ISO 14040-14044), avaliou 16 indicadores relevantes em 5 áreas de impacto, incluindo: ecossistemas, recursos, saúde, água e mudanças climáticas. O estudo analisou uma variedade de formatos diferentes, desde catálogos até faturamento e declarações onde, na maioria dos casos, a impressão se mostrou a opção mais sustentável.
Ao promover comunicações digitais, evite fazer alegações ambientais enganosas. O greenwashing deve ser evitado porque oculta práticas insustentáveis e pode atrapalhar iniciativas legítimas de redução de impactos ambientais negativos.
Em um caso recente tratado por Two Sides, um grande agente de viagens, ao promover a mudança de folhetos de papel para comunicação digital, afirmou que “Usando a comunicação digital, você está fazendo sua parte para ajudar o planeta”. Uma alegação desse tipo, de uma empresa que vende viagens aéreas, pode encobrir o impacto ambiental de suas atividades comerciais. Se uma organização está considerando promover os benefícios das comunicações eletrônicas para seus clientes, ela não deve alegar vantagens ambientais enganosas que não podem ser comprovadas.
Two Sides busca dialogar com quaisquer organizações para ajudá-las a fazer afirmações de marketing precisas e honestas, com relação aos impactos ambientais de suas estratégias de comunicação. Queremos engajar organizações para que removam mensagens de greenwashing e desistam de praticá-lo. Para aquelas que se recusam a evitar essa prática e que são incapazes de fornecer comprovação que justifique suas afirmações, ações mais rigorosas podem ser encaminhadas.
O direito de escolher
Uma pesquisa com consumidores encomendada por Two Sides e realizada pela Toluna em 2021, mostrou que no Brasil:
- 74% acreditam que devem ter o direito de escolher como recebem comunicações (impressas ou eletronicamente) de organizações financeiras e prestadores de serviços.
- 68% estão preocupados com a segurança das suas informações pessoais mantidas eletronicamente e acreditam que elas correm o risco de serem hackeadas ou roubadas.
- 59% acreditam que não devem ser cobrados ao optarem por contas ou comprovantes de papel. As organizações responsáveis não devem negar aos consumidores o direito de escolher se receberão comunicações em papel ou digitais. Elas também devem demonstrar boa responsabilidade corporativa, não criando sobretaxas ou dificultando que os consumidores continuem recebendo comunicações em papel.
Fonte: Two Sides